segunda-feira, 25 de março de 2013

Os segredos da solidão I


«Mais vale só.» Depende. Do que é, para cada um, estar «mal acompanhado». Se a «má companhia» for alguém com quem se tem uma relação doentia e tóxica, o melhor é fechar contas e dar crédito a necessidades próprias. Quando a sensação de ficar entregue a si mesmo, numa espécie de desamparo sem causa óbvia, se afigura desarmante, a «má companhia» somos nós.

Como viver com os nossos «buracos negros»?
A era da hiperconetividade e do telefone smart tem vantagens preciosas, mas não substitui um abraço, um jantar caseiro ou uma «escapadinha a dois», como prometem os sites de descontos em voga. A possibilidades de interagir sem fronteiras pode valer muito pouco se, mesmo numa sala cheia, tudo parecer distante, superficial e vazio de sentido. 
O Estrangeiro (título do Nobel da Literatura  Albert Camus (1957) é o outro e somos nós. No lançamento da obra póstuma do escritor e pensador, a partir de manuscritos não editados (The First Man), a filha de Camus revelou ao Nouvel Observateur como foi sentir-se invisível, quando ela era ainda criança: «Encontrei o meu pai sentado na sala, a cabeça entre as mãos. Disse-lhe: ‘Estás triste papá?’ Ele levantou a cabeça, olhou-me nos olhos e respondeu: ‘Não, estou só.’ Isso revoltou-me tanto! Eu não sabia como dizer-lhe que comigo ele não podia estar só’». 

Brian Marki Fine Art - L'Étranger I - Oil on canvas 

Quem é o estrangeiro? O estranho em cada um de nós? Quando abri o livro Solidão (Pergaminho, 16,60€), de Emily White, fui surpreendida, na primeira página, com um teste. Respondi aos 20 itens da Escala de Solidão da Universidade da Califórnia. Antes de mergulhar nas 317 páginas que tinha em mãos, segui as pistas apresentadas nas referências finais, googlei e obtive uma interpretação mais completa do resultado: «Você é uma pessoa solitária e provavelmente sabe disso. Se não lhe causa incómodo, é possível que esteja apenas a racionalizar o problema, a inventar desculpas para não enfrentá-lo.» 

(cont.)

segunda-feira, 18 de março de 2013

Hello darkness, my old friend

No ano em que eu nasci, 1964, The Sound of Silence era a música do momento. O clássico de folk-rock da dupla americana Simon & Garfunkel, sobre as dificuldades de comunicação entre humanos, foi escrito ao ritmo de uma linha por dia, numa altura em que a América recuperava do choque do assassinato de John F. Kennedy (1963).

«A canção era sobre a angústia pós-adolescente», explicou Paul Simon à imprensa, «mas por conter uma boa dose de verdade, fez com que muita gente se identificasse com ela». Não apenas nessa altura, mas noutras, como após o trágico evento de 11/9. 

Hoje, o descontentamento (desencanto? perplexidade?) globalizou-se e permanece atual. A melodia apela à emergência da uma qualquer luz, no meio da escuridão. E, talvez, ao desejo de um outro amanhã. Ao fim desse silêncio «ensurdecedor» nos tempos sombrios que atravessam, velhos e novos, ávidos de sonho. 
Aqui ficam alguns excertos.

Ver clip: O som do silêncio

«Olá escuridão, minha velha amiga
Vim conversar contigo de novo
(…)
Em sonhos agitados, caminhei só
Nas ruas estreitas da calçada
Sob a luz dos candeeiros de rua
(…)
E na luz nua eu vi
Dez mil pessoas, talvez mais
(…)
Pessoas a escreverem canções
Que as vozes jamais partilham
E ninguém ousa
Perturbar o som do silêncio

"Tolos", disse eu, "vocês não sabem
Silêncio é como um cancro que cresce
Ouçam as palavras que eu vos posso ensinar
Aceitem os braços para que vos possa alcançar"
Mas as minhas palavras caíam como gotas silenciosas de chuva
E ecoaram num poço do silêncio
(…)

domingo, 10 de março de 2013

Psicoterapia a nu


Na hora de procurar ajuda, saiba o que deve esperar de um profissional. A sua saúde mental agradece


4 «regras de ouro»:

Certificar-se das credenciais do terapeuta
Procurar referências do mesmo 
Indagar sobre o método usado e regras de funcionamento
Descubra se sente segurança e empatia na sessão


www.123rf.com

O que pode acontecer quando se tem a impressão de haver um clima erótico, numa sessão de terapia? A gestão da proximidade entre pacientes e profissionais de saúde mental é um tema atual que raramente se discute fora do âmbito da classe e da comunidade científica. As questões éticas agitaram a praça pública quando um prestigiado psicólogo americano, então colunista da Psychology Today, escreveu um texto polémico. Em Trabalhador sexual ou terapeuta?, Stanley Siegel defendeu que os objetivos e técnicas dos psicoterapeutas eram idênticos aos dos encontros com um(a) acompanhante: a experiência ocorria numa realidade suspensa e aí era possível existir empatia, compaixão, autoconhecimento e transformação pessoal, num tempo e espaço delimitados. A tese era para ser publicada na secção Intelligent Lust – a mais lida da revista – mas foi censurada e pode agora ser lida no novo projeto do ex colunista, ironicamente chamado Psychology Tomorrow. Para Stanley, a conjugação de conversa e sexo pode, em certos casos, solucionar problemas de autoestima, de ansiedade, inibição sexual e dificuldades em lidar com o corpo. Mas será mesmo assim? À luz dos códigos de ética internacionais, a resposta é não. 

A relação terapêutica obedece a um setting com regras próprias, em que o contacto físico não entra. A haver atração, ela deve ser descodificada nas consultas, em benefício do paciente, sem que o clínico aja como qualquer outra pessoa nessa situação (reforçando desse modo o problema que a pessoa traz). Ao agir as fantasias do paciente, o resultado pode ser contraproducente (ou não fosse por isso que as comédias acerca deste tema têm sucesso garantido, porque facilmente as reconhecemos, tanto quanto as tememos). Porém, a nível oficial, pouco ou nada se sabe acerca desta realidade escondida (o relatório que analisa as queixas dos utentes, da responsabilidade da Direção Geral de Saúde, não tem qualquer referência à área da saúde mental). Ténue é a linha que separa o próximo do demasiado próximo. A questão é saber como fazer quando isso sucede.
stanley-siegel.com

Maria (nome fictício) sofria de ansiedade social e tinha recorrido aos serviços de um terapeuta conhecido. Após três meses de sessões, deu por si a ficar impaciente pela sessão seguinte. «Chegava a ter consultas de quase duas horas, conversava ao telefone com ele e uma amiga alertou-me para o facto de isso ser, no mínimo, uma prática pouco ortodoxa.» No final de uma sessão, abordaram as dificuldades de relacionamento de Maria e ele despediu-se dela com um abraço e um beijo, acompanhado de carícias. «Fiquei desorientada, sem saber se devia ceder aos avanços, apesar de ter vontade.» Desde esse dia, nada voltou a ser como antes. «Comecei a sentir por ele tudo o que já havia experimentado em relacionamentos que acabaram mal.» Durante a pausa da terapia, para férias, Maria recorreu a outro profissional. Na terceira sessão conseguiu verbalizar o sucedido. Nunca mais voltou ao primeiro consultório nem fez queixa, «por sentir medo e culpa», que está a explorar agora, num novo contexto.
A confusão de fronteiras na dupla terapêutica tem feito correr muita tinta no meio das celebridades, cujas vidas são alvo do escrutínio público. Basta recuar um século para chegar à história de Sabina Spielrein, paciente de Carl Jung. O discípulo de Sigmund Freud sabia que estava a explorar terreno minado ao envolver-se sexualmente com Sabina, que veio a ser, igualmente, uma psicanalista famosa. O caso gerou polémica por ter sido violado o código de conduta, com consequências para os três visados, como o ilustrou, de resto, o cineasta Cronenberg, ao ficcionar a história, em Um Método Perigoso. Casos em que terapeutas menos avisados se renderam à sedução dos seus pacientes têm sido mais comuns do que o recomendável, pondo a nu as fragilidades humanas. Nos anos 30, a escritora Anais Nin, amiga e amante do seu psicanalista Otto Rank - outro dissidente de Freud – viria a descrever esse envolvimento num dos seus diários, admitindo publicamente o impacto que a experiência teve na sua vida, marcada pela relação incestuosa que tivera com o pai. Nos anos 60, foi a vez de Marilyn Monroe e Ralph Greenson. O médico abriu-lhe as portas da sua casa e apresentou-a a familiares e amigos, por entender que assim podia reparar os danos sofridos pela rapariga cuja infância fora passada em orfanatos e famílias de acolhimento. A morte da atriz, por overdose de barbitúricos, representou a travessia no deserto para Greenson. Um ano antes de morrer, redigiu o ensaio Problemas em psicoterapia com ricos e famosos, onde refletiu sobre os riscos de sucumbir ao poder sedutor dos pacientes, tomando como exemplo o caso «de uma actriz de 34 anos, bonita e famosa, com personalidade limite, aditiva e paranóide». 

Quase um século depois, a neutralidade do terapeuta é ponto assente, bem como a capacidade de lidar com a transferência (sentimentos e crenças do paciente que ele projeta no terapeuta). 
O clínico e o paciente não são amigos, não almoçam juntos e, excepto numa situação de emergência, não se contactam entre sessões. 

http://adangerousmethod-themovie.com

Para a psiquiatra Ângela Pires, o profissional deve preservar a sua vida privada e manter-se firme e seguro para poder acompanhar a pessoa em tudo o que ela sente, da zanga e fúria à paixão. Aceitar a pessoa que ali está implica, no ambiente clínico, dominar a arte de gerir a distância. «Nem tão próximo que perca o foco, nem tão distante que não se deixe tocar pelo paciente.» Quanto a eventuais abusos, comentados em surdina, por parte de quem ajuda e de quem procura essa ajuda, a médica adverte: «O envolvimento erótico do terapeuta é muito semelhante ao incesto e traz danos, na medida em pressupõe que ele age por vaidade, questões de ego ou inexperiência, em vez de traduzir um desejo de intimidade do paciente, com bom senso e sem rejeitá-lo.»
O que fazer, então, perante uma situação menos ética? David Neto, da Ordem dos Psicólogos, recomenda: «Confrontar o profissional e esclarecer eventuais equívocos e, se for uma queixa com fundamento, apresentá-la à entidade que o tutela.»

Glen Gabbard é um psiquiatra americano, famoso por avaliar profissionais de ajuda (padres, médicos e psicoterapeutas) acusados de transgredir limites no exercício de funções. Numa entrevista recente ao site do British Psychoanalytic Council, o diretor da clínica Baylor, no estado do Texas, afirmou que todos os clínicos são vulneráveis a passar das marcas, mas apenas os que têm distúrbios da personalidade o fazem. E cita alguns exemplos de transgressões, com caráter perverso: «Tratam as pessoas como suas amigas, outras vezes convencem-nas de que estão apaixonadas por eles.» Valendo-se da sua autoridade, criam falsas esperanças em quem as procura para apoio especializado e exploram-nas, quando as deviam acompanhar e proteger. Em certos casos, essa faceta revela-se, paradoxalmente, uma virtude. Glen, também autor do bestseller Psychiatry and the Cinema, explica porquê: «O público adora o tipo de pessoa que faz algo radical para salvar o paciente, isso torna-o sedutor.»
Consciente disso, uma jovem americana lançou, há dois anos, o conceito Terapia a Nu. Apesar de não ser reconhecida no meio clínico, Sara White insiste que o seu método – despir-se online, enquanto o paciente vai dando curso livre as suas fantasias – está para o século XXI como a psicanálise o foi para o século XX. A jovem argumenta, no site, que os homens estão assustados com as mulheres, que tomaram de assalto o meio clínico, e que o meio virtual se lhes afigura apetecível para se exporem, sem toque nem inibições, mas com sexo à mistura. Poderá ser terapêutico para alguns, mas não é psicoterapia.

Texto publicado em Revista Máxima (Dez.2012)

O Meu Corpo e Eu


Encontrar significado para sintomas pouco comuns é um exercício de descoberta pessoal, que a ciência só parcialmente explica e a sociedade nem sempre aceita

Duas mulheres famosas, uma romancista e outra activista, entenderam ter uma palavra a dizer sobre o que se passava no estranho mundo dos seus corpos, aos quais «aconteciam coisas». Dessas, que as ciências médicas diagnosticam e tratam, e de outras, menos óbvias. É humano: o sintoma tem sempre razão. Descobri-la é outra história. A ser bem contada, pode acabar nas páginas de um livro.    
«Em Maio de 2006, sob um céu azul e sem nuvens, ali estava eu [Minnesota, EUA] para discursar sobre o meu pai, que morrera dois anos antes. Assim que abri a boca, comecei a tremer violentamente. Tremi nesse dia e tremi outra vez, noutros dias. Eu sou a mulher que treme.» Assim termina o ensaio The Shaking Woman or A History of My Nerves (2010), da autoria da escritora americana Siri Hustved, companheira do também escritor Paul Auster. A experiência, aos 51 anos, abalou-a profundamente. Tudo correra bem na elegia fúnebre: «Quando chegou a hora, li o que tinha preparado, numa voz forte, sem lágrimas.» Agora, diante de uma plateia de convidados, no lugar onde o pai tinha sido professor universitário durante quatro décadas, também conseguiu ler o discurso até ao fim, mas incapaz de controlar o seu corpo a tremer, da zona do pescoço para baixo.
Durante dois anos, Siri dedicou-se, com afinco, à procura da explicação para o «estranho» que habitava nela, qual «duplo», que podia manifestar-se à revelia da sua vontade, do seu Eu. Procurou ajuda na medicina convencional e complementou a sua investigação com memórias e episódios biográficos marcantes.

 A sensação de «ser outra» não era nova. A escritora começou por aprender a falar norueguês, apesar de ter nascido em solo americano. Uma de quatro irmãs, cresceu na companhia de um irmão imaginário, chamado Erik, que viria a ter o papel de psicanalista, num romance seu. Com frequência, tinha episódios de enxaqueca, ataques febris e perturbações sensoriais. Em adulta, foi-lhe diagnosticada neuropatia periférica, comum em pacientes com enxaqueca. Siri convivia relativamente bem com tudo isto. Até entrar em cena «A Mulher que treme».
A hipótese de luto tardio estava fora de questão. Freud poderia diagnosticar histeria (hoje, perturbação de conversão). O psiquiatra equacionou uma desordem de pânico. O neurologista quis despistar a possibilidade de epilepsia. 
http://sirihustvedt.net/

57 anos, ascendência norueguesa
Doutorada em literatura inglesa, nos Estados Unidos
Romancista e ensaísta
Traduzida em 29 línguas, recebeu vários prémios
Casada com o escritor Paul Auster, a viver em Nova Iorque
Insight: «Ser doente depende do temperamento, história pessoal e cultura em que vivemos» 



As ressonâncias magnéticas que não acusaram nada. A solução para manter os malditos «ataques» sob controlo era tomar medicamentos beta-bloqueantes. A certa altura, a autora confessa ao leitor: «Fui seguida por uma psicanalista e uma neurologista, mas nenhuma me disse quem era a mulher que treme.»
Siri foi à procura dela. Frequentou, até, um grupo de neuropsicanálise e conheceu as pesquisas sobre neurónios-espelho, responsáveis pela empatia (sentir-se na pele do outro). Aí estaria, segundo ela, a chave do enigma. Na última semana de vida do pai, Siri pensava nele, antes de dormir, quando foi invadida pela sensação física de alguém com enfisema pulmonar. «Como ele, senti a proximidade da morte.» O pai autorizara que ela usasse memórias suas no livro As Tristezas de um Americano (2008). A filha chegou a teclar cartas dele, combatente na II Guerra, para interiorizar fisicamente o sentimento dos flashbacks descritos.
O envolvimento emocional intenso com a escrita paterna pode ter estado na origem do «ataque». Quando ela se preparava para dar voz às palavras, deu-lhes corpo. «A história da mulher que treme é a narrativa de um evento que se repete e vai ganhando, ao longo do tempo, múltiplos sentidos, consoante a perspectiva.» Podemos não controlar o que nos acontece, mas faz toda a diferença ligar pontas soltas do «Eu» nessa história, e conta-la, de forma articulada, a um «Tu». 

Um dia, a mente deixa de responder ao que se passa no corpo e tudo parece perdido. Ou ganho, depois de passar pela experiência, com uma visão renovada. Para a activista política Naomi Wolf, autora do best seller O Mito da Beleza, nos anos 90, o «click» deu-se aos 46 anos. «Enquanto fazia amor, e nos momentos seguintes, deixei de sentir-me física e emocionalmente conectada e, em vez disso, sentia uma dormência interna». Este foi o ponto de partida para o seu novo livro, Vagina: A Cultural History. Num artigo ao jornal britânico The Sunday Times, Naomi afirmou que o seu problema foi uma oportunidade para ganhar uma nova consciência sexual, com a ajuda clínica, mas não só.   
A jornada começou no gabinete de ginecologia. Os testes ditaram o diagnóstico: doença degenerativa na lombar, pela compressão vertebral nos pontos L6 e S1. A lesão, originada por uma queda, duas décadas antes, nunca tinha dado dores, até bloquear parte do nervo pélvico (que envia impulsos ao cérebro, activando a química do prazer e do amor). Daí a dormência e falta daquela euforia pós-sexo. A cirurgia era parte da solução. Na consulta com o especialista Jeffrey Cole, Naomi ficou a conhecer algo novo: «Cada mulher tem um nervo pélvico diferente; algumas ramificações centram-se mais na vagina, outras no clítoris ou, ainda, no períneo, o que explica as diferenças individuais da resposta sexual feminina.»
Sem estar à espera, Naomi encontrou a resposta para o clássico drama da insatisfação feminina. Se as diferenças nas terminações nervosas pélvicas são puramente físicas, deixa de haver discussão sobre orgasmos de primeira e de segunda. O mistério está na anatomia e circuitos neurais de cada mulher. Isto é algo que devem gostar de saber as 30% de mulheres ocidentais que referem não ter prazer com o sexo. «Em vez de julgar-se ou culpar-se por algo não funcionar consigo, explore as suas ligações neurais e deixe-se guiar por elas.»

O prazer de fazer amor e o sentimento de êxtase 2-em-1, voltaram. Depois do alinhamento das vértebras, Naomi recuperou, em alguns meses, a sensibilidade que julgava perdida. Durante esse tempo, quis aprofundar o assunto e frequentou os cursos de Mike Lousada, um terapeuta de sexo tântrico. «Os tântricos abordam a sexualidade feminina com respeito, como se fosse sagrada», revelou à imprensa. Na sua obra, disserta sobre o potencial do órgão sexual feminino, uma porta de entrada para o autoconhecimento e a comunhão mística.  
As críticas não se fizeram esperar. Numa edição do The Guardian, por exemplo, ironizava-se com a mulher em crise da meia-idade que usava a ciência a gosto, para legitimar questões de ego.
naomiwolf.org

50 anos, ascendência americana e romena
Formou-se em Artes e Literatura Inglesa, nos Estados unidos
Autora, jornalista e defensora da liderança e libertação sexual das mulheres
Foi consultora de Al Gore e Bill Clinton nas suas campanhas presidenciais 
Vive com o produtor de cinema Avram Ludwig
Insight: «As mulheres americanas têm sido tão controladas por ideais e estereótipos como por limitações materiais»


Naomi Wolf, a mulher que personificou o movimento feminista de terceira geração, nunca escondeu as suas posições acerca do corpo, da vida privada e das questões de consciência social, por mais controversas que fossem. O gigante Apple também não escondeu que, em pleno século XXI, censura palavras como a que titula o livro. Na sinopse pode ler-se: «V****a. Um trabalho surpreendente que muda radicalmente a forma como pensamos acerca da v****a». Ironicamente, o texto termina com a autora a interrogar «porque é que, mesmo num mundo cada vez mais sexualizado, a v****a é vista como uma ameaça, ou se pensa nela como algo ligeiramente vergonhoso».
Nas redes sociais, alguns dos comentários destacaram o paradoxo: se é de um termo médico que estamos a falar, como querem, afinal, que lhe chamemos?  

Texto publicado na Revista Máxima (Fev 2013)




sábado, 2 de março de 2013

Viver com Atenção Plena

Se está preso na lógica do «é para ontem, é urgente, só paro quando acabar», este texto pode interessar-lhe


«Devagar que tenho pressa» é uma máxima que pode revelar-se de grande utilidade para alcançar alguma paz de espírito e manter um estado emocional equilibrado na correria dos dias. Saber parar e escutar o corpo a mente é algo que vamos desaprendendo, mas podemos restaurar, com um pouco de treino e persistência.
Ganhar tempo e calma, aliviar a dor e estados ansiosos e até, melhorar a produtividade, são alguns dos benefícios da Atenção Plena (mindfulness). 

Imagem extraida do site rellacafa.com/

Trata-se de um método desenvolvido pelo investigador americano Jon Kabat-Zinn, da escola médica da Universidade de Massachusetts, na segunda metade do século passado. Praticante de ioga e meditação budista, o também fundador da Clínica de Redução do Stress retirou a componente religiosa e ideológica da prática e tornou-a popular. Hoje é usada em várias clínicas médicas da Europa e dos Estados Unidos, no tratamento da dor crónica e como complemento do tratamento de problemas de saúde.

Usada por técnicos de saúde e psicólogos como complemento de tratamentos e psicoterapias, esta prática, que se deseja regular, é divulgada em Portugal no Espaço Budadharma, em Lisboa, através de cursos de curta duração. O objetivo é recentrar-se e conquistar de um espaço interno de aceitação e desprendimento. Aprender a focar a atenção, sem medo, permite tomar contacto com aspetos subjetivos, sem ficar refém deles e ganhar um distanciamento saudável face ao que se passa dentro e fora de nós. Ganha-se um espaço de liberdade interna, o que se traduz, gradualmente, numa menor vulnerabilidade ao sofrimento e na diminuição da frequência de estados mentais dispersos, flutuações de humor e pensamentos automáticos indesejados, que geram desgaste e fadiga.

«A dor é inevitável, o sofrimento é opcional»
Segundo Jon Kabat-Zinn, a dor tem três componentes:
Física: a dimensão sensorial e corporal
Emocional: os sentimentos envolvidos (raiva, frustração)
Cognitiva: o significado atribuído (pensamentos, expetativas negativas)


Dar atenção à dor altera a relação com ela, pois permite: 

. Aprender a viver com a dimensão sensorial 
. Libertar-se das componentes emocional e cognitiva
. Melhorar a qualidade de vida

Aplicações
Mindfulness é reconhecido como prática de promoção da saúde e revela-se útil nas seguintes situações:
. Gestão da dor
. Redução do desconforto
. Depressão moderada
. Problemas gastrointestinais
. Hipertensão
. Estados ansiosos
. Perturbações do sono
. Dependências

Saber mais em Revista Máxima