«Mais vale só.» Depende. Do que é, para cada um, estar «mal acompanhado». Se a «má companhia» for alguém
com quem se tem uma relação doentia e tóxica, o melhor é fechar contas e dar crédito a necessidades próprias. Quando a sensação de ficar entregue a si mesmo, numa espécie de desamparo sem causa óbvia, se afigura desarmante, a
«má companhia» somos nós.
Como viver com os nossos «buracos negros»?
A era da hiperconetividade e do telefone smart tem vantagens preciosas, mas não substitui um abraço, um jantar caseiro ou uma «escapadinha a dois», como prometem os sites de descontos em voga. A possibilidades de interagir sem fronteiras pode valer muito pouco se, mesmo numa sala cheia, tudo parecer distante, superficial e
vazio de sentido.
O Estrangeiro (título do Nobel da Literatura Albert Camus (1957) é o outro e somos nós. No lançamento da obra póstuma do escritor e pensador, a partir de manuscritos não editados (The First Man), a filha de Camus revelou ao Nouvel Observateur como foi sentir-se invisível, quando ela era ainda criança: «Encontrei o meu pai sentado na sala, a cabeça entre as
mãos. Disse-lhe: ‘Estás triste papá?’ Ele levantou a cabeça, olhou-me nos olhos
e respondeu: ‘Não, estou só.’ Isso revoltou-me tanto! Eu não sabia como
dizer-lhe que comigo ele não podia estar só’».
Brian Marki Fine Art - L'Étranger I - Oil on canvas
Quem é o estrangeiro? O estranho em cada um de nós?
Quando abri o livro Solidão (Pergaminho, 16,60€), de Emily White, fui
surpreendida, na primeira página, com um teste. Respondi aos 20 itens da Escala
de Solidão da Universidade da Califórnia. Antes de mergulhar nas 317 páginas
que tinha em mãos, segui as pistas apresentadas nas referências finais, googlei
e obtive uma interpretação mais completa do resultado: «Você é uma pessoa
solitária e provavelmente sabe disso. Se não lhe causa incómodo, é possível que
esteja apenas a racionalizar o problema, a inventar desculpas para não
enfrentá-lo.»
(cont.)
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