Elsa Punset quer revolucionar a forma como as novas gerações lidam com o que sentem
Clara Soares
A filha do escritor Eduard Punset, escritor e professor de ciência e tecnologia, dirige o laboratório de aprendizagem social e emocional, na Universidade de Madrid. Elsa é perita em educação emocional, conferencista e autora do livro Bússola para navegadores emocionais (Editora Objectiva). O seu trabalho assenta em descobertas científicas realizadas na última década, que mostram que o cérebro necessita da conexão com o outro e, «para enfrentar as questões deste século, é preciso desenvolver competências emocionais».
O que mais a fascina na filosofia, enquanto adepta da psicologia e da ciência?
A possibilidade de compreender a vida. Nos últimos 15 anos, a neurociência trouxe respostas que estão ausentes na filosofia. No século XX aprendemos a sobreviver fisicamente. Dizia-se que o cérebro era imutável a partir dos 18 anos. A partir do momento em que começámos a medir o que se passa no cérebro, o desafio é a sobrevivência emocional. Sabemos agora que o ambiente é tão importante como a genética, que o cérebro é plástico e capaz de aprender e desaprender. Isto ainda não é evidente na educação nem na medicina.
Os miúdos, diz-se com alguma frequência, não saem da escola preparados para a vida. O que se passa?
O actual sistema educativo ainda formata as pessoas como se fossem operárias. Os miúdos estão desmotivados e não fazem esforços. Muitos acabam os estudos e não encontram trabalho. O modelo autoritário funciona numa sociedade hierarquizada e forte, que não é o que hoje temos. O sistema permissivo também não se revelou melhor. O “faz o que queres, eu apoio-te em tudo” reflecte-se em crianças com dificuldades de relacionamento e de expressão, pouco hábeis a resolver conflitos, a tomar decisões e a gerir emoções.
Em que consiste a educação emocional?
Nos programas implementados nas escolas espanholas, ensinamos os miúdos a darem nome às emoções e a modulá-las, sobretudo as que nos aterrorizam, como a ira, o desprezo, o medo ou a tristeza. Ensinamos-lhes que um pouco de ansiedade é normal, porque funciona como combustível para a acção. Fazemos exercícios práticos – e validados cientificamente – para trabalhar competências como a escuta, a expressão da ira e a resolução de conflitos. Com os professores, damos a conhecer os princípios da inteligência emocional, ou seja, como integrar instintos, emoções e pensamentos.
Como se ensina um jovem a gerir emoções?
Vivemos na sociedade da distracção e do ócio e somos bombardeados com estímulos. Muitos adolescentes chegam à escola sem reconhecerem as suas necessidades básicas, nem modulá-las. A tendência é ir apagando sucessivos estímulos, sem que sejam processados, sem capacidade para manter a mente focada no aqui e no agora. Começo por levá-los a confiarem suficientemente em si mesmos para poderem dizer não. Segue-se um trabalho de orientação, para que descubram os seus interesses, consigam estabelecer metas e, depois, cumpri-las.
Quer partilhar algum episódio que tenha sido marcante para si, em todo este processo de educar emoções?
Posso contar uma coisa que se passou com a minha filha mais nova, então com quatro anos. Ela ia dormir pela primeira vez a casa de uma amiga e, antes de partir, sentou-se no sofá e disse: “Mãe, tenho emoções confusas.” Fiquei encantada! Uma boa educação emocional permite-nos pensar pela nossa cabeça e a descobrir que ter emoções confusas é próprio dos humanos. Expressá-lo não resolve o problema, mas ajuda-nos a lidar com ele de forma construtiva.
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Revista Máxima
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