Jornalista, casada há 18 anos e com um filho, Sylvia de Béjar publicou mais de uma centena de artigos sobre relações de casal, sexualidade e psicologia em diversas revistas.
O seu livro é um convite à descoberta de si, nos relacionamentos íntimos.
Por Clara Soares
O que a motivou a escrever, num estilo tão directo e pessoal?
Li muito, consultei vários sexólogos e ginecologistas, falei com mulheres e escutei-me a mim mesma. Foi um ano e meio de trabalho que me absorveu completamente, a escrever e reescrever conteúdos, para ficar compreensível e sem falhas.
Quais foram as reacções ao livro?
Médicos e psicólogos têm-no recomendado aos clientes e chegaram a perguntar-me: “Como sabe isto?” Com conhecimento de causa, respondi: porque já experimentei com o meu marido. A resposta dos leitores – os homens também o leram! – não podia ser melhor. Para mim, também foi bom. Compensei tanto tempo de trabalho com uma semana de férias a dois num barco, em Ibiza, com muito amor e, claro, bom sexo (risos).
O que é o bom sexo?
A parte lúdica, que se joga por divertimento, de forma criativa e experimental. Como em qualquer jogo, só depois de se jogar – de se provar, no caso do sexo – é que se descobre do que se gosta e não se gosta, e se pode escolher modalidades, sem ter de repetir as que não agradam!
Isso não acontece na prática?
Acontece muito menos do que deveria acontecer. Muitas mulheres com quem falei levam muitas coisas para a cama e, quando estão a fazer amor, não tiram o devido partido do momento. Porque não se sentem à vontade e pensam no que está errado com elas, porque ficam ansiosas por poderem transpirar, por não terem as medidas que acham que deviam ter, entre outros detalhes. Com isso esquecem o lado divertido. Comportam--se como se não tivessem direito ao prazer. A atitude delas contrasta com a do sexo masculino, muito mais focado no gozo do que na mente.
As mulheres continuam prisioneiras da imagem?
É um facto. Quanto mais preocupadas, menos atentas à sua satisfação sexual. Por exemplo, uma mulher preocupada em esconder uns quilos a mais, quando se despe, não está totalmente presente. O parceiro sente e isso não é agradável. Gostaria que um homem que está a fazer amor consigo lhe dissesse: “Já viste a minha barriga?” Eles não vêem a celulite como nós, os pêlos, as estrias, querem alguém que esteja ali, envolvida no que está a fazer. Eles sentem-se valorizados com uma mulher que consegue entregar-se com gosto.
A falta de desejo delas tem a ver com o facto de os homens ignorarem aquilo que as satisfaz na intimidade? Numa sondagem feita em Espanha, verificou-se que 10% dos homens, independentemente da idade, afirmavam que procuravam dar prazer às suas parceiras. Perceberam que existem outros tipos de estimulação além do coito. O tempo que dura e as vezes que se faz são aspectos secundários.
A corrida ao orgasmo não é obrigatória...
O melhor é o durante. Muitas mulheres preferem satisfazer-se sozinhas porque não se satisfazem com os parceiros que já tiveram.
A monotonia conjugal é incontornável?
A sedução é uma capacidade que todos temos e requer inovação. Às vezes, basta passar a noite num lugar diferente, outras pode-se ficar pelo prazer de uma simples massagem, sem ter de fazer mais nada. Mas há também o dia em que um pode tocar mas o outro não. Quando se introduz um elemento de diferença, fazer amor ganha um sabor especial.
O que pode comprometer a espontaneidade no sexo?
Já pensou porque é que mais de metade das mulheres não deseja ter sexo com o cônjuge? Porque não se divertem. Nunca aprenderam, não sabem. A vida sexual é um processo que se aperfeiçoa ao longo da vida. Eu mesma, aos 40, gosto de coisas que antes não apreciava e de outras que nem sabia que existiam ou não me atrevia a dizer.
Por exemplo?
As fantasias. Muitas mulheres temem assumir que gostam de se sentir dominadas pelo homem quando fazem amor. Outras até o confessam às amigas, mas não a ele, por recearem que ele fique intimidado. Outras ainda por vergonha.
Que pensa do sexo sem envolvimento afectivo?
O sexo vale a pena se for feito com consciência e se tiver qualidade. Em nome do amor, muitas mulheres têm uma vida sexual sem qualidade. Amor e sexo não são a mesma coisa. O sexo com amor é a melhor coisa. Mas amor com mau sexo não é a mesma coisa.
Que sugere às mulheres que não se sentem sexualmente realizadas?
Que apostem numa atitude mais activa. Não adianta trocar de parceiro, imaginar que vai aparecer o Príncipe Encantado com a fórmula do prazer. A liberdade também é uma conquista pessoal a fazer, aprender a desfrutar-se, a tirar partido de si, e não apenas cuidar do lado cosmético.
Sylvia dixit
• O sexo começa no cérebro (a imaginação é um afrodisíaco)
• Prazer e autocensura não combinam
• A reconciliação com o espelho é vital para se sentir sexy
• Sexo e coito não são sinónimos
• A penetração vaginal não é suficiente (na maioria das mulheres) para alcançar o clímax
• 7 em cada 10 mulheres atingem o orgasmo pela estimulação do clítoris
• A estimulação manual (masturbação) é tão importante como outras práticas sexuais
• Sem conhecer bem o corpo (e o que o satisfaz) não se é dona da sua sexualidade
• Orgasmo e ejaculação masculina não são sinónimos (eles podem ejacular sem ter orgasmo ou alcançá-lo sem ejacular)
• Não há modelos sexuais ideais: cada mulher (e cada homem) deve criar o seu
• No sexo, querer controlar tudo é o mesmo que não se permitir desfrutar e aprender
• Pornografia, brinquedos sexuais, cibersexo e fantasias não são interditos, mas complementos saudáveis do prazer
• O bom sexo (oral, anal, coital) não é algo que lhe acontece mas algo que fazemos com que aconteça
Excerto de entrevista publicada na revista Máxima (2002)
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