Lutam para sair dos guetos para os quais a sociedade as empurram. Correm ainda pela igualdade. Querem sucesso e estão a tê-lo. Falta-lhes desembaraçar-se de alguns mitos e obter a cumplicidade (e a emancipação) dos homens
Por Clara soares
As mulheres têm mais que fazer,com as tarefas de sempre. As domésticas (uma minoria mais abonada só usa avental em ocasiões raras), as profissionais, os passatempos (nem que seja a saída semanal com as amigas ou o ginásio para manter a forma) e as compras. As roupas e os acessórios importam, seja porque as fazem sentir-se confiantes – ou compensadas por tantos deveres e afazeres. Não é por acaso que, segundo os estudos de mercado, elas surgem como as principais consumidoras de vestuário, serviços de estética, produtos de beleza e perfumaria. Mas como gerem elas, no quotidiano, a imagem de “supermulheres”?
São cada vez mais as mulheres que optam por viver sozinhas, sem que tal constitua um estigma social. Um estudo realizado no ano passado pela Pew Internet and American Life Project mostrou que o local de trabalho é o sítio onde a probabilidade de iniciar relacionamentos é maior (38 por cento). Porém, e de acordo com o mesmo estudo, mais de metade dos americanos solteiros (que representam 43 por cento da população adulta) não estão interessados – contrariamente ao que seria de supor – em encontrar a alma gémea. Uma atitude inédita, que costuma ser mais comum entre mulheres, divorciados ou viúvos.
Uma sociedade onde elas progressivamente conquistam influência e poder compromete – e bastante – o estatuto masculino, ao ponto de mexer com valores tão básicos como a virilidade. Será que também eles se sentirão tentados a gastar o dinheiro que elas ganham? Estarão dispostos a ficar em casa a tomar conta dos filhos e do lar, sem “perder a face”? E caso não estejam à altura de aceitar tal desafio, voltarão a correr para os braços de mulheres menos exigentes e poderosas, que os mimem e cuidem, sendo financeiramente dependentes deles?
O modelo da economia global deixa pouca margem para os conceitos de vida praticados nos anos 60, por exemplo, em que ainda era de lei a mulher ficar em casa e sobrava mais tempo para a vida conjugal. Hoje, essa área está em crise. Entre as muitas razões que levam ao fracasso do casamento tradicional, destaca-se a organização do trabalho. A tal ponto que a escritora e psicanalista francesa Corinne Maier se tornou famosa quando pôs o dedo na ferida. No seu livro Bom-dia Preguiça (versão francesa, 2004), lançou a polémica no meio empresarial, ao alertar os leitores para que façam o menos possível e não assumam responsabilidades no contexto laboral. Porquê? Porque nas empresas as pessoas se convertem em novos escravos, a quem se exige sempre mais a troco de um simples contrato de trabalho. A título de exemplo, refira-se que um executivo americano passa, anualmente, em média, 68 horas ao telefone e apenas 26 horas a ter relações sexuais.
O cenário tem uma dimensão expressiva nas grandes metrópoles do continente asiático: num universo repleto de gente anónima, os encontros assumem, com frequência, uma dimensão secundária relativamente às comunicações virtuais e às funções sociais de cada um.
No plano dos afectos, a realidade japonesa parece ter atingido um impasse, com cada vez mais mulheres solteiras – para quem a identidade já não passa por casar – e divorciadas. O cenário afigura-se temerário para o grupo dos homens casados, de tal forma que alguns decidiram criar uma associação para aprenderem a salvar os seus casamentos
No seu livro À Procura da Intimidade (Edições Asa, 2005), a psicóloga Maria Emília Costa explica por que é preciso que os cônjuges façam uma revisão das suas premissas de vida, de modo a não terem a impressão, tantas vezes incómoda e paralisante, de que investir na relação é sinónimo de perda de identidade.
Através dos casos que ilustram este dilema, a investigadora mostra como os modelos de intimidade espelham as regras com que aprendemos a amar desde a mais tenra infância – mesmo apesar da evolução dos modelos sociais, que defendem o crescimento individual. “Isto tem a ver com as heranças de valores, que se impõem ao discurso politicamente correcto”, esclarece a autora. Refere-se aos modelos culturais que são transportados para a educação. “Enquanto filhos, sabemos que é frequente, ainda, o pai perguntar ao filho adolescente quantas namoradas ele tem, mas se faz uma pergunta desse tipo à filha, é capaz de resumi-la ao singular (namorado)”, conclui. E isto “emperra” as melhores intenções liberalizantes, quer se queira quer não.
Este paradoxo entre ser igual e diferente, autónomo e dependente, afigura-se um verdadeiro quebra-cabeças para os homens. Alexandre Cruz Almeida, um brasileiro com 29 anos, com um site e um blog onde aborda com bastante humor as relações entre sexos, mostra, a partir de um detalhe quotidiano, aquilo a que chama esquizofrenia da mulher moderna: “Por um lado, a minha esposa quer que eu seja independente e saiba cuidar de mim; por outro, precisa que eu seja dependente dela – na forma como me apresento vestido, por exemplo – pois sabe que a sociedade a vai julgar como mulher se eu estiver com mau aspecto ou a camisa por passar.”
Em As Mulheres Querem Tudo , ele brinca com o facto de as mulheres emancipadas quererem por perto um homem Neandertal (forte e protetor), que seja também um gentleman, cheio de sensibilidade. “Elas nunca sabem que tipo de homem procuram, por isso escolhem um e tentam, em vão, mudá-lo; eles sabem exactamente a mulher que querem e não desejam que ela mude, reclamando logo quando elas querem mudanças.”
Voltando ao curso para homens, de Bob Gottfried – uma iniciativa que, por enquanto, não tem eco no nosso país –, pode revelar-se útil saber que “as mulheres querem sentir-se desejadas e precisas, falar de tudo um pouco com subjectividade, ter ao pé de si homens fortes mas que astratem com gentileza”. O mentor desta formação gratuita aconselha-os a fazerem aquelas pequenas coisas que eles não valorizam, mas que fazem toda a diferença para elas (arrumar o ketchup no sítio certo ou fechar a tampa da sanita, por exemplo). E dá algumas dicas para relaxar (exercícios respiratórios anti-stress), em vez de serem reactivos face a tais “miudezas”.
Se forem capazes de seguir o conselho – de homem para homem –, conseguirão que elas se sintam compreendidas e que façam por eles o que, no fundo, eles mais querem: “Serem reconhecidos por trabalharem a sério, serem poupados a sermões e queixas, terem o seu momento de sossego em momentos de stress, ter a graça de as ver fazer o que eles não gostam em casa, sair com os amigos e… claro, sexo.”
Excerto de artigo publicado na Revista Máxima
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