domingo, 10 de fevereiro de 2013

«Curtir» v.s. «Namorar»




E se alguém com quem teve um encontro íntimo não olhar para si no dia seguinte ou, pior que isso, fazer de conta que nunca se viram, quando se voltarem a cruzar? Se foi esse o acordo explícito que estabeleceram antes, nada de novo. A questão do sexo casual – vantagens e desvantagens – compete a cada um. O estilo de vida escolhido, no que toca à vida privada, é uma decisão individual.

De acordo com um estudo realizado pelo sociólogo Machado Pais, a liberdade sexual é assumida pela maioria dos adolescentes e jovens, mas os dilemas associados a essa realidade estão igualmente na ordem do dia. Estudos realizados nos Estados Unidos, e citados na revista digital The Atlantic, destacam o crescimento do número de estudantes do sexo feminino nas universidades e a generalização da «cultura do engate», leia-se, sexo descomprometido, na população universitária. Porém, a «norma» de saltar de parceiro em parceiro pode não estar a ser tão promissora e satisfatória como aparenta. Especialmente para as raparigas ditas sexualmente emancipadas. Apenas 2% delas se revê neste registo, ao passo que a maioria prefere a velha e tradicional «cultura do namoro». A somar a esta evidência, pesquisas levadas a cabo na universidade da Florida sugerem que a fatura do amor livre se traduz, mais tarde, em perturbações alimentares, mais consumo de substâncias e tendências depressivas, comparativamente a jovens que optam por relações de médio e longo termo.

 A conclusão parece óbvia: entre a ausência de vínculos e o casamento há uma terceira via. A intimidade não oficializada, através de rituais que dispensam a aliança no dedo. Em suma, parece que as mulheres do século XXI têm o que as suas mães e avós nunca sonharam, mas vêem.se presas num equívoco: afinal, que poder é o delas, em matéria de decisão? Se o sexo casual – ou sem rosto – é a regra, qual o lugar para a satisfação das necessidades emocionais? Numa época em que obras como As Cinquenta Sombras de Gray se elevam à categoria de best sellers globais – em que o protagonista rico e dominador mesmeriza a jovem inexperiente e a leva a submeter-se aos seus caprichos, de acordo com um contrato firmado como na época do Marquis de Sade – qual a margem de liberdade para querer mais, além de um vínculo secreto, puramente físico e destituído de afetos?

O poder feminino não vai além da questão do desempenho e da técnica? Este parece ser o tabu da sociedade hiper-realista e digital, em que todos podem ter acesso a todos, mas ninguém parece poder ficar mais próximo de alguém. Não se trata de saber de quem é a culpa ou se o romantismo perdeu glamour. A propósito, os filmes que cativam têm uma boa dose de suspense e o encanto deles reside em esperar para ver até onde levam. Não será também assim, fora da tela? É esse o poder da liberdade: exercê-lo, sem ceder à corrente dominante.

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