domingo, 7 de dezembro de 2014

Quinta Dimensão


Hans Zimmer é um nome incontornável no universo dos compositores de bandas sonoras. Fã incondicional dos seus trabalhos, cativa-me a evolução que ele vai fazendo, obra atrás de obra, surpreendendo-me sempre. A última surpresa resulta da parceria feliz com o realizador Christopher Nolan, no filme Interstellar (ver mais em The Story Of How Hans Zimmer Wrote The Interstellar no Business Insider, a partir de um artigo do The Guardian, assinado por Tom Shone).

Já em Inception (do mesmo realizador), sobre o sonho dentro do sonho (e as dimensões do real), o Tempo teve direito a uma faixa, Time, na banda sonora, que inclui ainda uma versão mais alargada do tema. Em Interstellar, o Tempo é uma presença que vai sendo explorada ao longo de todo o filme e volta a merecer destaque numa das faixas, Afraid of Time.

Existir é um processo solitário, que ganha sentido quando é vivido através do olhar de um outro e na relação com ele, o que nos torna plenamente humanos. Finitos numa dimensão, infinitos numa outra: os sonhos e as singularidades de hoje transformam-se nas memórias futuras de nós, em outros, amanhã. No espaço intergaláctico e nos trilhos vivos do nosso ADN.

Tanto em Inception como em Interstellar, o dilema dos protagonistas só começa a deixar de o ser quando eles desafiam os limites do que concebem como possível ou real, saindo então do paradoxo. 
A parceria Zimmer-Nolan tem o mérito de veicular, na perfeição, esta possibilidade de conceber o impossível e mergulhar numa nova dimensão.


O poema de Dylan Thomas, Do Not Go Gentle Into That Good Night, pano de fundo do épico espacial Interstellar – e já não via um filme de ficção assim desde 2011 Odisseia no Espaço – transporta-nos para essa quinta dimensão, O que tiver de acontecer, acontecerá. Mas que não seja gentil e conformada (desesperançada, até) a longa viagem de uma estrela. Ou a evolução de uma espécie. 

Nem a curta jornada de um homem, que abre os olhos à luz sabendo que caminha para o sono e a escuridão. Sabendo também, e por fim, que a matéria não existe sem o coração dos buracos negros (a singularidade, assim se designa, na Física), onde o tempo do relógio para e o espaço deixa de existir. A quinta dimensão tem um som e Zimmer soube captá-lo.