terça-feira, 31 de maio de 2016

Snapchat: Identidade Instantânea?


O programa "Central Parque", na RTP 3 (de 28 de maio, 2016), sobre tendências multiplataforma, foi dedicado ao Snapchat. A migração de jovens para redes sociais onde a privacidade e o efémero se conjugam, é uma tendência que está a ser estudada pelos investigadores sociais e pelas marcas, que querem perceber e captar este segmento de mercado.



Os nativos digitais cresceram na sociedade globalizada e sentem-se à vontade a saltar de rede para rede, interagindo em cada uma consoante as preferências do momento. Eles, a geração que valoriza mais o acesso do que a posse, usam os canais de comunicação visual - privada e temporária - como meios para estabelecer contacto, viver o momento e sem o lema "para guardar" ou "para mais tarde recordar".


  • Que impacto tem o uso do Snapchat e outras aplicações de mensagens privadas (ou em grupos restritos) na nossa forma de estar e, até, de ser?  
  • A velocidade e o esquecimento andam de mãos dadas? 
  • Será esta geração uma geração sem memória (ou com uma memória fragmentada)?
  • Que efeitos tem na Identidade o apagamento automático dos conteúdos pessoais partilhados? 
  • E como dar a volta à ansiedade associada ao estar sempre no momento, sem paragens?
  • Será preciso voltar ao modo (ou moda) "slow", para que as experiências vividas tenham alguma espessura, ou seja, algo que permaneça e devolva um sentido se si mais coeso?

   Para saber mais sobre estas e outras questões, assista ao programa, para o qual fui convidada, juntamente com Joana Carravilla Veja o Vídeo

Ansiedade, Minha Companhia

Somos o país europeu com mais casos diagnosticados de ansiedade e com as doses mais elevadas no consumo de psicofármacos. Para este flagelo contribuem, em parte, o envelhecimento da população e as circunstâncias de vida (separações, desemprego, precariedade), mas o principal “vilão” parece estar na prescrição e no consumo excessivo de medicamentos. Desde que a Direção Geral de Saúde adotou as orientações internacionais, há cinco anos, que a classe médica conhece o período de referência máximo para toma de ansiolíticos (três meses), largamente ultrapassado, como comprovou o estudo realizado pela da DECO, em 2013: um quarto dos 2 069 inquiridos consumia-os (por vezes, durante mais de um ano) e um em cada quatro exibia sinais de dependência.

Como é estar na pele de quem sofre de ansiedade? Ana Clara Ramos (ao centro) vive com esta perturbação há duas décadas e conta como tem gerido os momentos mais críticos e o que aprendeu com isso e o que faz para manter e, até, melhorar a sua qualidade de vida. Com ela, a psiquiatra Teresa Leonardo, que traça o perfil da doença Veja o Video

Limitar consumo sim, mas...
O diretor do Programa Nacional para a Saúde Mental, Álvaro de Carvalho, defende que é urgente inverter a tendência, investindo nas boas práticas médicas (redução da prescrição e formação dos clínicos) e na limitação de incentivos ao consumo (reduzindo as comparticipações, que hoje já têm um limite de 37 por cento). Estamos a falar de benzodiazepinas (BDZ), prescritas para combater sintomas ansiosos, mas “que são altamente viciantes e cujo abuso têm efeitos nefastos nas funções mentais e psicomotoras, a curto e médio prazo”, lembra o psiquiatra Ricardo Gusmão, presidente da EUTIMIA – Aliança Europeia Contra a Depressão em Portugal. O médico refere-se aos casos de “défices cognitivos e demências que deixam de existir após o desmame das BDZ”, bem como aos acidentes de viação e às fraturas por quedas.
“Temos um grave problema de saúde pública e estamos na linha da frente entre os países da OCDE, em matéria de doses diárias de consumo de psicotrópicos”, acrescenta Ricardo Gusmão. Entre as medidas que estão a ser ensaiadas para alterar este cenário, destaca-se um programa de desabituação, promovido pela Faculdade de Medicina de Lisboa. Resta saber como o Ministério da Saúde vai separar o trigo do joio (real necessidade de toma v.s. abuso) e que recursos vai alocar para este fim (profissionais de saúde, psicoterapias).

terça-feira, 10 de maio de 2016

Educar pelas Emoções

(publicado no site da revista Visão a 9 de maio de 2016)

No jardim-de-infância da escola Pedro Álvares Cabral, no concelho de Oeiras, crianças de quatro e cinco anos movimentam-se na sala e falam entusiasticamente umas com as outras, enquanto brincam, na companhia uns dos outros ou, como também é frequente, concentrados em coisas só deles, sob o olhar atento da educadora, pronta a responder aos vários apelos dos miúdos. Além deles, há duas presenças muito especiais na sala: o Nino e a Nina. Não sendo de carne e osso, eles fazem parte deste grupo desde o ano passado, altura em que a educadora Isabel Dias, ou Bé, como lhe chamam os pequenos, os apresentou ao grupo: “Estes dois meninos, que são de outra escola, enviaram uma carta a dizer que vos querem conhecer.” O contacto com estes protagonistas e as suas histórias e formas de comportar-se tem ajudado estas crianças a conhecer e a lidar com as suas emoções. Atestam-no os desenhos pendurados nas paredes da sala, onde os bonecos aparecem tristes, alegres ou zangados e a fazerem coisas como “esperar pela sua vez” ou “partilhar as suas coisas”.
Desde que o programa Nino e Nina, da associação Prevenir, entrou em funcionamento, em 2006, que a socióloga Lorena Crusellas e as psicólogas Marta Costa da Cruz e Margarida Barbosa se desdobram em contactos e ações de formação em escolas portuguesas e espanholas. A avaliação qualitativa realizada em escolas dos concelhos de Cascais, Oeiras e São João da Madeira, com crianças do pré-escolar e ao longo de dois anos, revelou melhorias significativas (entre os grupos experimental e de controlo) em todos as variáveis medidas: autocontrolo, diferenciação emocional, autoestima e competências sociais. A iniciativa envolveu 600 educadores e 15 mil crianças e a equipa quer ir mais longe. “Temos acordos com autarquias, colégios privados e patrocínios de empresas e o nosso objetivo é alargar o projeto a Espanha”, explica Marta Costa da Cruz. De resto, os resultados da experiência replicada recentemente no país vizinho, por Lorena Crusellas, a fundadora da Prevenir em Portugal, vai no mesmo sentido, como a própria confirma: “Os educadores observaram mudanças a curto prazo nas crianças, manifestas em condutas de cooperação e no reconhecimento dos sentimentos próprios e dos outros.”

Luis Coelho

VER, FAZER, SENTIR

Voltando ao Bairro dos Navegadores, em Oeiras, é chegado o momento para fazer uma pausa e, falando em 'psicologuês', regular emoções. “O Nino e a Nina estão aqui mas nem precisam, porque eles (as crianças) já interiorizaram o que fariam no lugar dos bonecos”, esclarece a educadora Isabel Dias, já depois do exercício de relaxamento. Minutos antes, o grupo, sentado em círculo, respondia ao apelo da Bé. “Como ficam o Nino e a Nina quando não respiram, lembram-se? Ficam com o corpo apertado… Como é que se respira?” Nariz, boca, peito, barriga… os miúdos vão sossegando, alguns soltam alguns bocejos até, com os olhos fechados e atentos ao que se passa no corpo. “Podemos fazer isto quando estivermos zangados”, vai dizendo Isabel. Terminado o exercício, Isabel conta o caso da criança a quem “a Nina a fez perceber que não precisava de morder os outros”. E o de outra, que era agressiva e rejeitada pelos colegas, que mudou da noite para o dia quando, individualmente, eles fizeram o jogo dos óculos mágicos, feitos de cartolina (incluído no guia de competências). “Mal os colocassem, só podiam falar coisas boas da colega; muitos ficaram-se pelos atributos físicos mas só isso bastou para mudar para melhor a relação entre eles”, remata a educadora.

Psicóloga Margarida Barbosa, da Associação Prevenir
Psicóloga Margarida Barbosa, da Associação Prevenir
Luis Coelho

NOVOS RUMOS

Nestas sessões semanais, com a duração de hora e meia, os bonecos – muitas vezes feitos com a colaboração das famílias – funcionam como veículo na relação entre os educadores e os miúdos, que se identificam com as vitórias e os problemas do Nino e da Nina – eles também se sentem ofendidos, com raiva, com medo –, tão parecidos com os seus. Não raras vezes, são detetadas situações de crianças em risco que requerem o acompanhamento das mentoras do projeto. A aposta da Prevenir passa também pelo treino da resiliência, que é feito no terreno, com os educadores e a colaboração dos pais, a quem são fornecidas dicas para reforçar comportamentos positivos (caderneta com estrelas) em casa. A psicóloga Margarida Barbosa explica: “Descobrem outras formas de dar a volta a um problema, sem ser isolar-se ou bater noutros, quando se sentem, por exemplo, provocados ou ignorados”. Foi o caso do miúdo que face ao facto de as irmãs não o quererem a brincar no quarto delas, deixou de importar-se com isso e aprendeu a fazer outra coisa que lhe apetecesse, como pintar. Ou o caso da mãe que dizia ficar triste quando os filhos choravam ou estavam doentes e tristes: após o programa, o seu registo era outro: “Procuro alegrar esses dias e sei que está tudo bem quando os vejo sorrir”. No final, são também as famílias que ganham outra consciência, deles e dos filhos, que lhes permite desmantelar velhos hábitos e fazer diferente. Melhor e mais saudável que antes. Sobre a azáfama da equipa da Prevenir, de escola em escola, pelo Continente e Ilhas, Margarida Barbosa comenta: “Este projeto implica esforço, mas os frutos compensam.”
NINO E NINA: MENINOS COMO NÓS: VEJA O VÍDEO (VERSÃO ORIGINAL EM ESPANHOL) - no site da VISÃO

ELAS SÃO NOSSAS AMIGAS


Isabel Soares criou a coleção de livros Dra Catita, dirigida a educadores
Isabel Soares criou a coleção de livros Dra Catita, dirigida a educadores

Seis personagens com o nome de emoções. E formas simples de aprender a viver com elas. A coleção Dra Catita, lançada no ano passado, é uma ferramenta auxiliar para os educadores do ensino pré-escolar e básico e inspirou-se no trabalho da psicóloga educacional Isabel Soares com crianças institucionalizadas: “Os Catitas têm sempre duas faces e é importante compreendê-las e geri-las desde cedo.” E a brincar. A autora exemplifica: "A Alegria sabe bem mas é preciso controlá-la para não ser demais; o Medo que aparece durante as trovoadas e quando estamos no escuro, está na nossa cabeça." Livros que fazem lembrar o filme Divertida(mente), mas para usar na escola com os mais pequenos.

VIII Encontro Anual da AP - O Estranho

O auditório do CHPL encheu. O Tempo - para uns, o mestre que ensina pela prátic, para outros um conceito abstrato - pareceu claramente pouco face ao tanto para dizer, o muito para escutar e outro tanto para partilhar. 
Foi um prazer ter colaborado na organização deste evento e, mais ainda, ter acesso a múltiplas abordagens de um tema que sempre cativou desde criança e, ainda hoje, me parece fundamental, em tempos de globalização e de standardização. É na abertura ao diferente e ao que nos é estranho, ou estranhamente familiar, para usar a terminologia freudiana, que residem as sementes da mudança, do crescimento e da evolução criativa.