Publicado na Visão a 20 de Agosto.2015
Não sabe o que é a consciência digital? Então fixe este nome: Klint Finley. Formado em comunicação e media, o jornalista americano especializou-se em tecnologias de informação enquanto fazia trabalhos em part time num laboratório de computação. Assim que acabou o curso, dedicou-se a escrever sobre temas tão diversos como startups, cultura hacker, Internet das Coisas, privacidade e neutralidade na rede. Colaborador da revista Wired e colunista noutras publicações do género, faz incursões na ficção e na música (noise art) - "a minha catarse pessoal" - assumindo a sua faceta autodidata. "Estou sempre à procura de ideias novas", esclarece o freelance, que vive com a mulher e dois gatos numa pacata zona residencial de Portland, no Oregon.
Fomos ao seu encontro para descodificar o conceito Mindful Cyborgs (ciborges - híbridos com partes orgânicas e cibernéticas - conscientes), título do podcast (programa de rádio online) de que é co-autor. Estabelecido o contacto, via Skype - final da tarde em Lisboa, início do dia em Portland - a primeira impressão foi a de estar na presença de uma mente inquieta: acabado de acordar, caneca de café numa mão e a concluir a ligação de um cabo com a outra. Momentos depois, e no tempo estipulado para a nossa conversa, Klint deixou pistas para conquistarmos literacia digital e viver com equilíbrio na era da quantificação e da aceleração.
Como surgiu a ideia do programa?
Quando eu e os outros dois autores (ver caixa) nos conhecemos num evento sobre a relação dos humanos com a parafernália que têm ao dispor para monitorizar as suas vidas. Fizemos um videochat ao vivo, na Wired, e dessa experiência nasceu a ideia de um programa cujo foco fosse questionar o que a tecnologia faz as nossas mentes, como muda a forma de perceber e pensar o mundo e discutir novas formas de lidar com o excesso. Em cada edição, acabamos com mais perguntas que respostas.
Pode dar alguns exemplos dessas perguntas sem resposta?
Até que ponto os media sociais contribuem mesmo para termos relacionamentos com mais qualidade ou os torna superficiais. Há 30 anos a relação fazia-se um a um, por carta, telefone. Hoje estamos a toda a hora com outros, que não os que estão a nossa frente, sem ninguém em exclusivo. Se um smartphone nos impede de desfrutar de uma experiência de modo mais pleno ou de pensar mais profundamente. Se devemos viver sem culpa o tempo que estamos online, como defende Alex Pang [tecnoentusiasta da universidade de Stanford, autor do livro Contemplative Computing], e usar a tecnologia como agente de serenidade e não de distração.
Como pratica o uso consciente da tecnologia na sua vida?
Sou parcimonioso na informação que partilho. Apaguei a aplicação do Twitter do meu telefone, vou lá pelo website. Faço meditação diariamente. É preciso interagir com a tecnologia de forma mais sábia, para gerir a pressão e tomar decisões em ambientes complexos de forma humanamente sustentável.
Que pistas pode dar para ter uma convivência saudável com o mundo digital
Respeite o espaço mental dos outros, nas redes sociais. Será que todos precisam de ver ou ler o que lá coloca ou só está a fazer ruído? Use uma parte do dia para estar só consigo. Se não consegue moderar o uso da tecnologia, pense numa forma de não depender dela e, em vez de repetir-se, ocupar-se com coisas mais criativas.
Quem são os Mindful Cyborgs?
Sara M. Watson, crítica de tecnologia e investigadora no Berkman Center for Internet and Society (Harvard)
Chris Dancy, vice presidente da empresa Healthways, em Nashville e consultor na área da quantificação do self (conhecido por ser "o homem mais ligado na Terra")
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