Li, há dias, um artigo de um jornal canadiano acerca das
novas formas de encontros. A sugestão do título: «Don´t date!» A proposta
resume-se à ideia de que, com tantas formas de conectividade em tempo real, pessoas
na faixa etária dos vintes e trintas parecem não estar a sair com uma pessoa,
mas com várias. Cada uma desempenha um papel específico: amigo para ir a uma
festa, colega de trabalho para fazer confidências e receber conselhos,
ex-e-melhor amigo para partilhar questões que ele testemunhou e tem acompanhado
nos últimos anos, amiga virtual com quem se trocam impressões ao final do dia,
antes de dormir.
E os sites de encontros? O sair-para-jantar-e-programa de cinema ou algo-mais? Não. Não estão em desuso: espelham a necessidade de contacto humano e de novas possibilidades de relacionamento. Porém, este registo afigura-se mais «tradicional» comparado com outros registos que a tecnologia permite, por exemplo, em «second screen experience» (o chat no tablet enquanto se vê um programa de tv, ou um filme ou música na net).
As investigações sobre o cérebro sugerem que a comunicação
mediada pela tecnologia (em tempo real) alteram os circuitos cerebrais e a
condicionar o modo como devemos comunicar. Abreviam-se palavras e ideias, nas
mensagens e mails e os rituais e formalidades foram perdendo espaço e razão de
ser. Tudo se torna mais fluido (ou «líquido» diria o sociólogo Zigmunt Bauman),
mas igualmente mais racional, digital e formatado.
#newyorkcityphotography
Com esta «normalização» das interacções, há quem defenda –
como o psicanalista Velleda C. Ceccoli (colunista da revista online Psychology Tomorrow) – que a erosão
progressiva das interacções face-a-face, em registo presencial, tende a reduzir a tolerância na resposta aos
estímulos que recebemos. Consequência provável: «Alienar a disponibilidade para
a ternura e a generosidade».
Ainda é cedo para avaliar esta trend: os estilos de abordagem do outro e de se dar a conhecer são
mais diversificados que nunca, pela multiplicidade de plataformas. Em si
mesmas, elas potenciam fluxos e oportunidades. Para lá das questões de negócio (dos «mercados de encontros»),
este fenómeno apenas parece amplificar a nossa necessidade e desejo de ir ao
encontro de paisagens humanas e, talvez, encontrar nelas um lugar especial,
seja sonhado como «casa», ou «ponto de encontro». Estar ligado, mesmo que por
tempo incerto ou fugaz, a alguém.
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