O que fazer quando
se recebe um diagnóstico «mau»? Como se lida com os efeitos devastadores de uma
doença crónica? Que sentido dar a uma faceta pessoal não assumida? Toda a experiência é válida, assim se consiga
encontrar o fio à meada e tecer os contornos de uma jornada feita na primeira
pessoa.
O rumo dado aos eventos parte, em última análise, da sua visão do real. Não raras vezes, é aí que se descobrem forças que se julgavam apenas dos outros, e permitem trilhar caminhos inexplorados, antes, durante e após processos difíceis.
O rumo dado aos eventos parte, em última análise, da sua visão do real. Não raras vezes, é aí que se descobrem forças que se julgavam apenas dos outros, e permitem trilhar caminhos inexplorados, antes, durante e após processos difíceis.
Estudos realizados
na universidade americana de Chicago demonstraram que as narrativas pessoais
têm um forte potencial terapêutico. Aliadas à medicina, cada vez mais
especializada, elas constituem um complemento essencial nos processos de
recuperação e da gestão de doenças e, mesmo em fases terminais, têm o potencial
de restituir a dignidade e a dimensão humana, subjectiva, que deve estar sempre
presente nos processos de natureza física.
Sabia que…
… um «diário de bordo» é uma opção frequentemente usada
para superar fases difíceis?
- Não importa o grau de conhecimento que se tem do assunto, nem sequer as competências de escrita.
- Registar no papel (ou no tablet) tudo o que se passa dentro e fora do corpo, num período de mudança, tem um poder catártico.
- Contar o que vai dentro de si, sem julgamento prévio, confere a sensação de controlo, pelo menos em parte, durante um período de incerteza.
- Elaborar, ou dar um sentido mais profundo ao que está a passar pode traduzir-se em serenidade. Há quem prefira fazê-lo a solo, mas igualmente numa psicoterapia ou num grupo (presencial ou virtual).
· Vergonha,
inadequação, medo e desespero são sentimentos que surgem – ou se intensificam –
em momentos de sofrimento e de dor. Eles podem ser minimizados pela escrita
guiada ou pela partilha de experiências, seja com um profissional de ajuda ou em
grupos com problemas similares. Outra das vantagens da partilha é sentir-se
acompanhado, ouvido e ter ao alcance a possibilidade de expandir, de forma criativa,
a visão de si e das opções que se afiguram pertinentes numa dada etapa de vida.
O uso das narrativas
biográficas tem-se revelado muito útil na formação de médicos e outros
profissionais de saúde, especialmente os que trabalham em equipa e em ambientes
tecnologicamente avançados (em que a componente subjectiva tende a ficar em
segundo plano pela especialização e falta de tempo, dificultando a comunicação
de diagnósticos, a adesão aos tratamentos e a colaboração do doente no processo
clínico). Em Portugal já existem iniciativas deste género, como as conferências
realizadas na Universidade de Lisboa (Centro de Estudos Anglísticos).
Viver para contar
O que as histórias
pessoais podem fazer por si (e por quem as testemunha)
- Fornecem informação útil: apreendemos melhor o que ouvimos directamente do que aquilo que lemos num folheto, que é desprovido do elemento emocional
- Conferem apoio: saber que não se é o único a passar por uma situação complicada revela-se uma ajuda preciosa (num processo de decisão, num tratamento, na reabilitação ou no luto)
- Estimulam a mudança de atitude: comprovar, in loco, como alguém foi capaz de deixar de fumar, de perder peso, superar uma quimioterapia ou um trauma, é uma fonte motivadora
- Facilitam decisões: a comunicação entre prestadores de cuidados clínicos e de quem deles precisa estabelece-se numa base mais realista e com um maior grau de confiança
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