Sente-se «ensanduichado»? Sem espaço para a tal plenitude
que sonhou ter, chegado a meio do caminho da vida? 3 níveis de dificuldade (ou
de complexidade) a ter em conta, porque fazem parte do processo, nas condições
atuais.
Desafio 1:
Longevidade
O aumento da esperança de vida tornou possível coexistirem
até cinco gerações. Uma conquista, sim. E novas questões. Em Portugal, a
geração sanduíche representa 34% da população, com 3,6 milhões de pessoas que,
entradas na meia-idade, se dividem entre as solicitações dos pais, que vivem
mais tempo, e dos filhos, cuja autonomia tarda em chegar. E enfrentam, ao mesmo
tempo, transformações pessoais (estado de saúde, mudanças laborais, separações,
lutos).
Desafio
2: Sustentabilidade
O grande desafio desta etapa, hoje mais
incerta do que era expectável no final do século XX, alterna entre sobreviver
ao papel de âncora da família e voltar a depender dos mais velhos, em tempos de
aperto. Dos cerca de milhão e meio de desempregados, apenas 370 mil recebem
apoios mensais do Estado. O País tem quase 20% de idosos, 3% dos quais dependem
dos descendentes (os que estão na meia idade). Estes e suportam as despesas com
os filhos por mais tempo que o expectável, já que entre os 15 e os 24 anos, 70%
dos jovens portugueses estão a cargo da família.
Desafio
3: Autonomia
Por força das circunstâncias, a ‘crise do ninho vazio’ –
quando os filhos vão à sua vida – está a ser suplantada pela dos ninhos cheios
ou, até, sobrelotados. Na prática, a casa de família pode ficar mais vazia,
para no momento seguinte voltar a encher-se, ao ritmo das mudanças imprevistas,
no mercado do trabalho e no mundo dos afetos. Apoiar-se nas ajudas dos idosos é
algo que começa a ser cada vez mais normal entre os que estão «no meio da
sanduíche». Segundo o último Censos, 10,3% dos que estão na meia-idade vivem a
cargo de familiares, na sequência de divórcio, perda de casa ou do posto de
trabalho. Ou em face de um diagnóstico de doença mental grave (Portugal ocupa o
primeiro lugar na Europa com uma prevalência anual de 23%). Também os seniores,
contando com uma velhice tranquila e uma pensão segura, se vêem confrontados
com a perda de qualidade de vida, se tiverem de ser a base para um filho
adulto, do grupo dos «entas», que deles depende.
A situação pode ser desesperada, mas não é para ser levada tão
a sério. É possível criar pontos de equilíbrio, por mais instáveis que sejam. E
ganhar algum distanciamento e espaço para existir.
(cont.)
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