As mães ditam as regras, fazem cara de má, e mandam arrumar
o quarto. Os pais jogam computador e levam a passear. Há forma de mudar isto.
(Excerto de artigo assinado por Catarina Fonseca.)
Ler o artigo completo em - Revista Activa)
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No tempo dos nossos avós, ao papel de mau da fita cabia ao
pai, que era tradicionalmente a fonte da autoridade. Com a maior autonomia das
mães, estas passaram a assumir o papel de disciplinadoras.
A situação acontece tradicionalmente quando pai e mãe se
divorciam, mas também é comum em muitos casais: a mãe é que impõe as regras,
manda fazer os trabalhos e arrumar o quarto, e o pai joga Playstation, dá
presentes e leva as crianças a passear. Os sites (e a vida) estão cheios de
desabafos de mães fartas deste papel de ‘polícia familiar’.
Ser a ‘má da fita’ é uma situação que, também
tradicionalmente, se intensificava com o divórcio: à mãe, que ficava com a
criança no dia a dia, cumpria o ingrato papel de polícia. Ao pai de fim de
semana, os presentes, as saídas, e os cinemas.
Desde 2008, quando a Lei do Divórcio mudou, que o regime
da guarda partilhada passou a ser a regra, e a autoridade cabe... à pessoa que
estiver na altura com a criança. “Ou seja, a autoridade acaba por ser quem está
mais à mão”, nota Clara Soares, psicóloga, jornalista e autora de vários
artigos sobre o divórcio. “Os homens deixaram de ser pais de fim de semana e
passaram mesmo a ter de ser pais a tempo inteiro. Portanto, o esquema
tradicional em que o pai impunha a autoridade morreu, mas o esquema seguinte em
que era o pai que dava os presentes também já vai pelo mesmo caminho.”
Por outro lado, estamos numa sociedade de consumo, onde os
filhos podem ser mais facilmente subornáveis. “É inevitável que as regras sejam
diferentes em cada casa”, nota Clara Soares. “Se o tempo for de qualidade não é
necessário dar alguma coisa para impor uma coisa que já tem, tipo ‘vou-te dar
um telemóvel para compensar o pouco tempo que eu passo contigo’. Os miúdos
percebem quando estão a ser subornados, e podem fazer chantagem: ‘Vou pedir ao
pai para me dar o telemóvel porque tu és má e não dás.’”
Mesmo que seja a nível de dinheiro, estamos sempre a falar
da atenção dispensada. “Mas os filhos só exigem alguma coisa quando não se
sentem suficientemente ambientados, e quando ninguém estabelece limites”, nota
Clara Soares.
Quando falta autoridade aos dois pais, o que acontece é que os presentes substituem uma relação, e as próprias crianças podem começar a exigi-las como compensação para o que não têm. “As crianças, se não têm o que é essencial, agarram-se ao acessório”, explica a psicóloga. “E mais tarde começam a odiar as pessoas à volta delas porque repetem o ponto de fuga que está automatizado.”
Por exemplo: um rapaz que foi ‘comprado’ com presentes por
pai ou mãe, habitua-se a resolver a vida nessa base. “Imaginemos um rapaz que
está sempre a fazer de homenzinho da casa para chamar a atenção da mãe. Quando
passa o tempo a chamar a atenção da miúda e ela o ignora, ele dá-lhe coisas com
medo de a perder mas sem necessariamente saber se gosta dela. Então, pode estar
a repetir a operação de charme que foi obrigado a desenvolver para sobreviver
em casa. Foi uma projeção para o exterior do seu ponto de fuga, o seu ângulo
cego, aquela área que não vemos porque estamos demasiado próximos.”
Ou seja, em conclusão, hoje em dia já não há esquemas
definidos para a definição de autoridade numa família.
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