sexta-feira, 20 de julho de 2012
domingo, 4 de março de 2012
Elsa Punset, Viajante Emocional
Elsa Punset quer revolucionar a forma como as novas gerações lidam com o que sentem
Clara Soares
A filha do escritor Eduard Punset, escritor e professor de ciência e tecnologia, dirige o laboratório de aprendizagem social e emocional, na Universidade de Madrid. Elsa é perita em educação emocional, conferencista e autora do livro Bússola para navegadores emocionais (Editora Objectiva). O seu trabalho assenta em descobertas científicas realizadas na última década, que mostram que o cérebro necessita da conexão com o outro e, «para enfrentar as questões deste século, é preciso desenvolver competências emocionais».
O que mais a fascina na filosofia, enquanto adepta da psicologia e da ciência?
Ver mais em: Revista Máxima
Clara Soares
O que mais a fascina na filosofia, enquanto adepta da psicologia e da ciência?
A possibilidade de compreender a vida. Nos últimos 15 anos, a neurociência trouxe respostas que estão ausentes na filosofia. No século XX aprendemos a sobreviver fisicamente. Dizia-se que o cérebro era imutável a partir dos 18 anos. A partir do momento em que começámos a medir o que se passa no cérebro, o desafio é a sobrevivência emocional. Sabemos agora que o ambiente é tão importante como a genética, que o cérebro é plástico e capaz de aprender e desaprender. Isto ainda não é evidente na educação nem na medicina.
Os miúdos, diz-se com alguma frequência, não saem da escola preparados para a vida. O que se passa?
O actual sistema educativo ainda formata as pessoas como se fossem operárias. Os miúdos estão desmotivados e não fazem esforços. Muitos acabam os estudos e não encontram trabalho. O modelo autoritário funciona numa sociedade hierarquizada e forte, que não é o que hoje temos. O sistema permissivo também não se revelou melhor. O “faz o que queres, eu apoio-te em tudo” reflecte-se em crianças com dificuldades de relacionamento e de expressão, pouco hábeis a resolver conflitos, a tomar decisões e a gerir emoções.
Em que consiste a educação emocional?
Nos programas implementados nas escolas espanholas, ensinamos os miúdos a darem nome às emoções e a modulá-las, sobretudo as que nos aterrorizam, como a ira, o desprezo, o medo ou a tristeza. Ensinamos-lhes que um pouco de ansiedade é normal, porque funciona como combustível para a acção. Fazemos exercícios práticos – e validados cientificamente – para trabalhar competências como a escuta, a expressão da ira e a resolução de conflitos. Com os professores, damos a conhecer os princípios da inteligência emocional, ou seja, como integrar instintos, emoções e pensamentos.
Como se ensina um jovem a gerir emoções?
Vivemos na sociedade da distracção e do ócio e somos bombardeados com estímulos. Muitos adolescentes chegam à escola sem reconhecerem as suas necessidades básicas, nem modulá-las. A tendência é ir apagando sucessivos estímulos, sem que sejam processados, sem capacidade para manter a mente focada no aqui e no agora. Começo por levá-los a confiarem suficientemente em si mesmos para poderem dizer não. Segue-se um trabalho de orientação, para que descubram os seus interesses, consigam estabelecer metas e, depois, cumpri-las.
Quer partilhar algum episódio que tenha sido marcante para si, em todo este processo de educar emoções?
Posso contar uma coisa que se passou com a minha filha mais nova, então com quatro anos. Ela ia dormir pela primeira vez a casa de uma amiga e, antes de partir, sentou-se no sofá e disse: “Mãe, tenho emoções confusas.” Fiquei encantada! Uma boa educação emocional permite-nos pensar pela nossa cabeça e a descobrir que ter emoções confusas é próprio dos humanos. Expressá-lo não resolve o problema, mas ajuda-nos a lidar com ele de forma construtiva.
Ver mais em: Revista MáximaEscutar é um ato de amor
Um filósofo e teólogo espanhol volta a fazer recair sobre si as atenções, no meio académico e entre os seus leitores, que são muitos.
Clara Soares
Francesc Torralba é um homem atento. Vive no meio de livros, alunos universitários e palestras pela Europa e na América do Sul. É casado, pai de cinco filhos, doutorado em teologia e escritor premiado, com dezenas de livros e ensaios. E ainda lhe sobra tempo para estar sozinho. Ou para ser maratonista. De resto, é nos passeios diários de bicicleta e durante a corrida, em Barcelona, que costuma encontrar inspiração para temas como a encontrar calma no mundo do desassossego, a arte de cuidar, a dignidade humana e a inteligência espiritual. Assumidamente um homem de fé, é dos primeiros a deixar-se cativar por autores nos seus antípodas. Como o ateu José Saramago e o artigo que este escreveu após os atentados do 11 de Setembro, O Factor Deus. “Surpreende-me a sua segurança e dogmatismo militante”, escreveu Francesc, num artigo de opinião. Aí pode ler-se também que a autoridade do Nobel não deixa espaço para a dúvida nem para o debate de ideias, característicos das sociedades modernas.
O que pretendeu transmitir com o seu novo livro, A Arte de Saber Escutar?
A escuta é um acto de amor. Acontece quando nos predispomos a receber a mensagem do outro, a abrirmo-nos ao desconhecido, com confiança. Todos precisam de ser ouvidos e reconhecidos. É uma necessidade universal.
Parte do princípio que o outro nos educa, quando o escutamos. Uma vez que nem sempre o fazemos, isso deve-se ao medo de ouvir verdades que preferimos ignorar?
Sim, esse receio existe. O medo impede-nos de escutar, até mesmo as vozes que transportamos dentro, do pai, da mãe, do irmão. A velocidade quotidiana não nos dá tempo para escutar, é aí que está o problema. Até parece um milagre alguém dizer: “Não tenho pressa, posso ouvir-te.”
Que impacto pode ter a escuta activa na vida das pessoas?
Depende das circunstâncias. Quando alguém está numa posição vulnerável – doente ou em sofrimento – precisa mais de ser escutado. Saber escutar, acolher, é uma ferramenta muito útil para os profissionais de ajuda. Os médicos, os psicólogos e outros cuidadores estão acostumados a lidar com dramas pessoais.
Todos queremos ser escutados. Em que medida é que isso traz valor acrescentado às nossas vidas?
Quando uma pessoa é escutada liberta-se, pode expressar o que a preocupa e sente-se digna, respeitada. Quem escuta – os outros e a si próprio – aprende muito, torna-se mais cosmopolita e ganha uma visão enriquecida da realidade.
Dedica-se ao desporto. Que dimensão lhe atribui na sua vida?
Correr é um exercício espiritual. Todas as manhãs corro à volta da cidade e durante esse período posso rezar, meditar, rememorar o que passou e planear o dia, a semana ou até o ano seguinte. Coisas que surgem nos meus livros vieram-me à mente enquanto eu estava a correr.
Ver mais em: Revista Máxima
Clara Soares
Francesc Torralba é um homem atento. Vive no meio de livros, alunos universitários e palestras pela Europa e na América do Sul. É casado, pai de cinco filhos, doutorado em teologia e escritor premiado, com dezenas de livros e ensaios. E ainda lhe sobra tempo para estar sozinho. Ou para ser maratonista. De resto, é nos passeios diários de bicicleta e durante a corrida, em Barcelona, que costuma encontrar inspiração para temas como a encontrar calma no mundo do desassossego, a arte de cuidar, a dignidade humana e a inteligência espiritual. Assumidamente um homem de fé, é dos primeiros a deixar-se cativar por autores nos seus antípodas. Como o ateu José Saramago e o artigo que este escreveu após os atentados do 11 de Setembro, O Factor Deus. “Surpreende-me a sua segurança e dogmatismo militante”, escreveu Francesc, num artigo de opinião. Aí pode ler-se também que a autoridade do Nobel não deixa espaço para a dúvida nem para o debate de ideias, característicos das sociedades modernas.
O que pretendeu transmitir com o seu novo livro, A Arte de Saber Escutar?
A escuta é um acto de amor. Acontece quando nos predispomos a receber a mensagem do outro, a abrirmo-nos ao desconhecido, com confiança. Todos precisam de ser ouvidos e reconhecidos. É uma necessidade universal.
Parte do princípio que o outro nos educa, quando o escutamos. Uma vez que nem sempre o fazemos, isso deve-se ao medo de ouvir verdades que preferimos ignorar?
Sim, esse receio existe. O medo impede-nos de escutar, até mesmo as vozes que transportamos dentro, do pai, da mãe, do irmão. A velocidade quotidiana não nos dá tempo para escutar, é aí que está o problema. Até parece um milagre alguém dizer: “Não tenho pressa, posso ouvir-te.”
Que impacto pode ter a escuta activa na vida das pessoas?
Depende das circunstâncias. Quando alguém está numa posição vulnerável – doente ou em sofrimento – precisa mais de ser escutado. Saber escutar, acolher, é uma ferramenta muito útil para os profissionais de ajuda. Os médicos, os psicólogos e outros cuidadores estão acostumados a lidar com dramas pessoais.
Todos queremos ser escutados. Em que medida é que isso traz valor acrescentado às nossas vidas?
Quando uma pessoa é escutada liberta-se, pode expressar o que a preocupa e sente-se digna, respeitada. Quem escuta – os outros e a si próprio – aprende muito, torna-se mais cosmopolita e ganha uma visão enriquecida da realidade.
Dedica-se ao desporto. Que dimensão lhe atribui na sua vida?
Correr é um exercício espiritual. Todas as manhãs corro à volta da cidade e durante esse período posso rezar, meditar, rememorar o que passou e planear o dia, a semana ou até o ano seguinte. Coisas que surgem nos meus livros vieram-me à mente enquanto eu estava a correr.
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