Um paradoxo em quatro atos
I.PARTIR
«Nunca voltes ao lugar onde ja foste feliz». É o que se diz.
Alternativas (temporariamente) positivas:
Versão Comum: Fugir para bem longe (como fez a autora do livro Comer, Orar, Amar, depois do divórcio);
Versão Zen: Ficar onde se está (quando não se sabe o que fazer, o melhor é não fazer nada);
Versão Pop: Fazer de conta que não se passou nada e passar à frente (pode ser com um copo na frente, com comprimidos, como muito boa gente, e liftings sociais vários, do gadget digital ao «tanto faz, que é normal»)
II.SENTIR
O «vírus» quer-se em banho-maria (ou manel), mas é como a meteorologia. Um dia chove e nada fica como se queria.
A pedra no sapato volta a moer o calo e não há podologista que lhe valha. Não, o «plot» volta a circular na rede neuronal, hormonal e visceral. Tanto que até faz mal.
III.VOLTAR
O fim nunca é o fim. É um abandono temporário.
Um dia, num acaso qualquer ou coincidência improvável, alguém «demasiado familiar» reaparece do nada e abala as defesas que se julgavam «à prova de bala».
Mergulha-se numa foto, tropeça-se num mail, descobre-se com choque, durante uma conversa banal com um colega de trabalho que é, ou foi também, parte da história do tal Outro (o lugar que um dia habitámos e fomos - supomos - felizes).
IV.REFORMAR
O passado volta sempre, instala-se no presente, porque habita nos lugares mais escondidos em nós.
O problema não são, afinal, as emoções vulcânicas, mas o facto de não gostarmos delas.
Depois de tudo perdido, anestesiado, queimado, esquecido, resta o óbvio facto de que nada se perde para sempre.
Ninguem se deixa para sempre. Para trás ou para a frente, o filme é mesmo com a gente. Sem «final cuts» nem personagens ausentes. É quando percebemos que não deixamos nunca de ser protagonistas, mas podemos fazer qualquer coisa como ... guionistas.
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