Hans Zimmer é um nome incontornável no universo dos
compositores de bandas sonoras. Fã incondicional dos seus trabalhos, cativa-me a
evolução que ele vai fazendo, obra atrás de obra, surpreendendo-me sempre. A
última surpresa resulta da parceria feliz com o realizador Christopher Nolan,
no filme Interstellar (ver mais em The Story Of How Hans Zimmer Wrote The Interstellar no Business Insider, a partir de um artigo do The
Guardian, assinado por Tom Shone).
Já em Inception (do mesmo realizador), sobre o sonho dentro
do sonho (e as dimensões do real), o Tempo teve direito a uma faixa, Time, na banda sonora, que inclui ainda uma versão mais alargada do tema. Em
Interstellar, o Tempo é uma presença que vai
sendo explorada ao longo de todo o filme e volta a merecer destaque numa das
faixas, Afraid of Time.
Existir é um processo solitário, que ganha sentido quando é vivido através do olhar de um outro e na relação com ele, o que nos torna plenamente humanos. Finitos numa dimensão, infinitos numa outra: os sonhos e as singularidades de hoje transformam-se nas memórias futuras de nós, em outros, amanhã. No espaço intergaláctico e nos trilhos vivos do nosso ADN.
Tanto em Inception como em Interstellar, o dilema dos
protagonistas só começa a deixar de o ser quando eles desafiam os limites do
que concebem como possível ou real, saindo então do paradoxo.
A parceria Zimmer-Nolan tem o mérito de veicular, na
perfeição, esta possibilidade de conceber o impossível e mergulhar numa nova
dimensão.
O poema de Dylan Thomas, Do Not
Go Gentle Into That Good Night, pano de fundo do épico espacial Interstellar
– e já não via um filme de ficção assim desde 2011 Odisseia no Espaço – transporta-nos para essa quinta dimensão, O que tiver de acontecer, acontecerá. Mas que não seja
gentil e conformada (desesperançada, até) a longa viagem de uma estrela. Ou a evolução
de uma espécie.
Nem a curta jornada de um homem, que abre os olhos à luz
sabendo que caminha para o sono e a escuridão. Sabendo também, e por fim, que a
matéria não existe sem o coração dos buracos negros (a singularidade, assim se
designa, na Física), onde o tempo do relógio para e o espaço deixa de existir. A
quinta dimensão tem um som e Zimmer soube captá-lo.
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