Aprendi no jornalismo que de nada serve ser um bom
profissional (e pessoa), se não se é lido, ouvido ou visto (por alguns, idealmente vários, e há quem só se contente com muitos). E na psicologia (saúde mental e psicoterapias)? Parece que sim, que esta máxima também se aplica. Sinto-me tentada a chamar-lhe «saída à americana» (das politicas de austeridade /espetro do desemprego dos terapeutas). De acordo com um artigo publicado há ano e meio, no The New York Times, assinado por Lori Gottlieb, não ter uma marca no mercado livre
pode ser uma falha irreparável. O artigo questiona o papel e o posicionamento dos
psicólogos que, sem o guarda-chuva das seguradoras e dos sistemas públicos de
saúde, se vêem forçados a adaptar-se às leis do marketing, se quiserem viver da
profissão.
Até há uma década, pelo menos nos EUA, bastava um diploma e supervisão
para exercer a clinica privada e construir uma carteira de clientes. Agora não. Segundo a APA, que
representa o setor, as intervenções clínicas sofreram uma quebra na procura em
cerca de 30%, num período de tempo de 11 anos (análise de dados até ao ano de 2008),
na proporção inversa do que sucedeu na indústria farmacêutica. Se os comprimidos podem ser anunciados e ter gigantescas
campanhas de marketing, o mesmo não se pode dizer das sessões de terapia.
Quem
procura ajuda para as suas questões mais privadas quer profissionalismo e confidencialidade.
E publicidade (também popularidade e exposição), quererá? O artigo faz querer que sim. À luz da economia global, os terapeutas também são marcas e, como tal,
não dispensam os serviços de consultores comerciais para se posicionarem no
mercado de trabalho ou minimizarem o risco de ter o consultório às moscas. É
que os psicoterapeutas generalistas já «não vendem», pelo menos sem um «sound
byte» que apele à cura rápida em questões muito específicas.
Num cenário de expansão de aplicações para dispositivos
móveis, os terapeutas que querem viver do seu ofício terão de moldar-se às
necessidades dos potenciais consumidores e oferecer /anunciar soluções rápidas para
problemas, quase como os técnicos de uma oficina automóvel. Mais: o cartão-de-visita
só tem a mesma função que tinha (antes da web 2.0) se for ancorado num site interactivo
e com uma boa dose de exposição pessoal. A explicação de Alison Roth,
consultora de sites de profissionais de ajuda, a este respeito é esclarecedora:
«A relação terapêutica é uma experiência íntima. As pessoas precisam de
conhecer aquele(a) com quem vão estar, quando teclam o nome no Google. Querem sentir
uma ligação pessoal e imediata.» Querem saber um pouco da história de quem está
do outro lado: se foi filho de um divórcio, se passou por um trauma, se tem uma
doença crónica.
Que lugar ocupa a postura empática e o insight do paciente, nesta nova lógica (metodologia / paradigma)? «Mostrar (ou demonstrar?) o caminho», de forma persuasiva, será terapia? Ou Consultoria (mentoria)? Se o cartão de visita diz que é um «promotor da felicidade» - há uns anos atrás, seria rotulado como banha da cobra - o seu detentor terá mais gente a consultá-lo do que optar pelo descritivo «psicoterapeuta» - hoje associado a «processo que envolve tempo, esforço e lágrimas»
Que lugar ocupa a postura empática e o insight do paciente, nesta nova lógica (metodologia / paradigma)? «Mostrar (ou demonstrar?) o caminho», de forma persuasiva, será terapia? Ou Consultoria (mentoria)? Se o cartão de visita diz que é um «promotor da felicidade» - há uns anos atrás, seria rotulado como banha da cobra - o seu detentor terá mais gente a consultá-lo do que optar pelo descritivo «psicoterapeuta» - hoje associado a «processo que envolve tempo, esforço e lágrimas»
No final da prosa, fiquei ainda a saber que quem deseja navegar nos mares da saúde mental deverá criar a sua própria almofada de recursos complementares (lançamento de livros, eventos de divulgação, sessões de formação temáticas, dicas online) e, assim, manter – ou aumentar – o seu rendimento. Seja.
Adeus,
«linha branca» (ou terapeuta «tela em branco» para o paciente projectar / e
consciencializar, por essa via, as suas fantasias e conflitos e ensaiar, em
terapia, um modo diferente de estar numa relação de proximidade com alguém).
O meio é a mensagem, como dizia Marshall McLuhan. Na hora de causar uma boa impressão (ou uma ligação simbiótica) junto do destinatário (e numa economia de escala), o embrulho é fundamental. Para quem entra na corrida da comunicação de marca, o «problema» é saber quando parar. Quanto ao ofício propriamente dito, correm os terapeutas o risco de perder-se, entre papéis e laços?
O meio é a mensagem, como dizia Marshall McLuhan. Na hora de causar uma boa impressão (ou uma ligação simbiótica) junto do destinatário (e numa economia de escala), o embrulho é fundamental. Para quem entra na corrida da comunicação de marca, o «problema» é saber quando parar. Quanto ao ofício propriamente dito, correm os terapeutas o risco de perder-se, entre papéis e laços?